O 10º disco de Madonna é o verdadeiro “pai do pop moderno”.
Que Madonna é sinônimo de poder, talento e reinvenção, isso todo mundo já está cansado de saber há muito tempo! Inspirando um milhão de outros artistas que a sucederam no passar dos anos, também é um fato comprovadíssimo que muitos desses discípulos conseguiram construir uma carreira sólida e de sucesso com base nos ensinamentos que a nossa eterna (e indestronável) “Rainha do Pop” já pregava desde os anos 80 e 90 (Britney Spears e Lady Gaga que o digam). Liberando diversos álbuns icônicos e muito bem recebidos pelo público e pela crítica, desde que surgiu com o single “Everybody”, do seu disco homônimo (de 83), a loira mais cobiçada da indústria fonográfica vem, era após era, trazendo para seus fãs materiais dignos de um verdadeiro membro da realeza musical.
Líder de diversos recordes que a fazem ser a veterana mais consagrada do meio em que atua (tornando-se com o passar das décadas em um modelo por excelência), Madonna é a cantora que mais vendeu discos no mundo (foram mais de 300 milhões de cópias espalhadas pelo globo), além de segurar o 4º lugar do ranking geral, atrás apenas dos Beatles, Elvis Presley e Michael Jackson. Brincando com assuntos polêmicos considerados tabus pela maioria das pessoas de sua (e de nossa) geração, a mulher não tem medo de cantar sobre religião, sexo, política e igualdade de gêneros enquanto executa em cima dos palcos performances altamente coreografadas em um espetáculo de luzes e pirotecnia.

Com uma discografia invejável que compreende 13 álbuns de inéditas, 82 singles e muitos lançamentos inesgotáveis, desde o seu 3º disco, o memorável “True Blue”, que Madonna vem tomando o total controle criativo de sua imagem e daquilo que elabora nos estúdio de gravação. Atuando ainda como produtora e compositora, suas obras passaram a ser encaradas com grande admiração por quem entende de música pop, fazendo da musicista uma exímia profissional da área respeitada por quem quer que seja. Trazendo diferentes temáticas e inovando nas sonoridades abordadas, os trabalhos assinados pela loira abrem-se aos ouvidos de quem os escuta como verdadeiros exemplares de uma (possível) “literatura musical”, cada qual contando uma história única e fascinante.
Todavia, se existe um álbum lançado pela Madonna que marcou em muito a história musical, esse é o “Confessions on a Dance Floor”, um dos favoritos dos fãs e até mesmo de quem pouco conhece a sua brilhante trajetória. Sem sombra de dúvidas o disco mais coeso do extenso catálogo da veterana, o 10º material de sua carreira foi lançado sob o selo da “Warner Bros.” em 11 de novembro de 2005 – 2 anos e 7 meses após “American Life”, o polêmico projeto carregado de teor político que causou o maior burburinho na “Terra do Tio Sam” em 2003.
Rendendo os singles “Hung Up”, “Sorry”, “Get Together” e “Jump”, “Confessions on a Dance Floor” foi genialmente estruturado como a setlist de um DJ (as faixas foram encaixadas e seguem em uma única sequência: como se tudo fosse uma música só), razão que o faz ser ainda mais nostálgico e animador. Influenciando-se na sonoridade dominante dos anos 70 e 80 (principalmente de Donna Summer, Pet Shop Boys, Bee Gees e Depeche Mode), o carro-chefe do disco (“Hung Up”) recebeu inteligentes samples de “Gimme! Gimme! Gimme! (A Man After Midnight)”, um dos maiores sucessos do ABBA.
Produzido [o álbum] pela própria Madonna ao lado do sempre fiel Mirwais Ahmadzaï (quem já tinha trabalhado com a veterana em “Music” e “American Life”) e Bloodshy and Avant (“Piece of Me” e “Toxic”, da Britney Spears), um dos maiores nomes da música eletrônica também deixou muito do seu toque no disco da musicista: o prestigiado Stuart Price (diversas faixas do “Aphrodite”, da Kylie Minogue). Muito bem recebido pela crítica e pelos amantes da música contemporânea, “Confessions” rendeu à Madonna uma vitória no “Grammy” de 2007 na categoria “Melhor Álbum Dance/Eletrônico” (o 6º Grammy dos 7 que possui, fora suas merecidas 28 nomeações).
Impulsionado pela “Confessions Tour”, a 7ª grande turnê da “Rainha do Pop” deixou seus rastros pela Europa, Ásia e América do Norte em 60 shows que começaram em maio de 2006 e terminaram em setembro do mesmo ano. Rendendo um lançamento em DVD, é estimado que a produção tenha gerado mais de 193 milhões de dólares com um público de 1,2 milhão de pessoas, quebrando assim o recorde de turnê feminina mais lucrativa da história (que antes pertencia à Cher com a sua “Living Proof: The Farewell Tour”, e que atualmente pertence à própria Madonna, com a “Sticky & Sweet Tour”).
Incluído no bloco “Dancefloor” do nosso especial “72 Discos” (relembre), é indiscutível toda a influência deixada pelo “Confessions” na música contemporânea a qual continua, até hoje, se inspirando no som produzido por Madonna há exatos 10 anos. Enquanto, àquela época, outros cantores e bandas aproveitavam-se para lançar discos recheados com as batidas do R&B e do pop-rock que bombavam nas paradas de sucesso desde o início dos anos 2000, a cantora agiu com distinta maestria ao resgatar a música dance de décadas atrás e modernizá-las com a sua própria atitude e personalidade.
Radicalizando totalmente o pop dominante de uma década atrás (que até então pendia mais para o lado do pop-rock e pouco tinha de eletrônico), é incrível o caminho que Madonna conseguiu abrir para outros trabalhos do meio que mais tarde seriam tão competentes ao dar continuidade aos primeiros passos iniciados pela veterana (como o “Blackout”, da Britney Spears, o “The Fame”, da Lady Gaga, e o “Bionic”, da Christina Aguilera). Se o pop de hoje é eletrônico, não é porque Katy Perry, Rihanna, Taylor Swift e tantas outras novatas optaram por deixar as coisas mais dançantes e resolveram “inovar” com seus trabalhos, mas sim porque a cantora mais bem sucedida da história teve a coragem de nadar contra a maré e mostrar-se, mais uma vez, merecedora do título de “Rainha do Pop”.
Eu ouço, ouço esse álbum, tentando achar alguma coisa, não consigo ver o quê que tem nele de especial? várias músicas em que ela demora pra começar a cantar e fica aquela sonoridade de discoteca.
Diferente de tudo o que a Madonna já lançou, este é, provavelmente, um dos álbuns mais temáticos, com uma força de expressão muito forte. A começar pelas letras, que são muito bem escritas e posicionadas no decorrer de todo o disco, o trabalho dos produtores é primoroso, a masterização impecável e o vocal da cantora muito bem trabalhado. Ele funciona como o que é mostrado nos clipes de Hung Up e Sorry: como pode ser divertida a noite de várias pessoas que resolvem deixar suas diferenças de lado para festejar juntos por aí. Madonna prova que música de qualidade (seja ela dance, pop, rock) não tem idade.